Nadia Duvall
Skin
| No ‘útero’ o meu corpo, memórias e sombras unem-se em movimentos fluidos e precisos criando velaturas de cor e de luz, através da modelação da fina película de pintura que se encontra submersa na água amniótica. Cada impulso dado é como uma respiração ofegante do “aqui” e do “agora”, permitindo à pintura crescer de um modo automático e livre. No fundo, é apenas uma mancha, que da sua autonomia se liberta do estatuto da mera pintura. É uma mancha habitada e que habita. Uma mancha afogada no espaço aquático… uma mancha que se quer adaptar à sua nova realidade de pele. E, enquanto pele, é uma Identidade. Uma metamorfose do Eu. Cada gesto é um sopro de inspiração para os próximos movimentos, permitindo à pele de tinta habitar entre o espaço virtual e real, como uma extensão do meu corpo. A sua origem é na água e é aí que cresce como um vírus e se desenvolve, numa constante metamorfose gestual, corporal e mental. O resultado final é, na sua essência, identidades mutáveis e memórias pessoais, permitindo que todo o “material” e “imaterial” se converta numa comunicação sublime. As subtilezas, a pele, as manchas e a procura [obsessiva?, autodestrutiva?] são as respostas aos gritos mudos do “Eu”. Um eu confuso e inadaptado que se metamorfoseia constantemente. | |
Realizo as minhas pinturas dentro de tanques de água, a que dou o nome de “útero”, segundo técnicas por mim desenvolvidas e com base numa enorme experimentação química e gestual que é registada numericamente.
| ||
Essas pinturas consistem em criar manchas de tinta à superfície da água que a posteriori se tornam películas/membranas de tinta, a que dou o nome de “Peles”. | ||
Essas “peles” são modeláveis com o corpo e/ou com instrumentos extensíveis a este, aos quais dou o nome de próteses ou esqueletos. | ||
Estas próteses tanto podem ser orgânicas e naturais (ramos de árvore, arbustos), académicas (grades de tela e pincéis gigantes) ou objectos antropomórficos unificadores ao meu corpo. |
Biografia
Nádia Bekoumit Duvall, luso-argelina, nascida em 1986, terminou a licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Caldas da Rainha em 2008, no mesmo ano em que foi galardoada com o prémio REVELAÇÃO do BANIF (Consagração atribuída a Fernando Lemos). Desde então tem usufruído do Mecenato do BANIF.
Duvall tem realizado diversas exposições a nível nacional e internacional (Berlim, Itália e Porto Santo). Em 2008 expôs na Galeria VPF ROCK GALLERY, do coleccionador Vitor Pinto da Fonseca, onde inaugurou o respectivo espaço expositivo. Participou na Feira Internacional de Arte da Lituânia em 2009 através da Galeria ARTHOBLER e é uma das artistas residentes/apoiadas da Bienal do Porto Santo. A sua obra faz parte do acervo de vários coleccionadores privados e públicos, nomeadamente do BANIF.
Foi bolseira em 2010 no projecto ‘Experimentação Arte, Ciência e Tecnologia’ do Ministério da Cultura, DG Artes e da Ciência Viva, onde trabalhou no Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) de Oeiras.
Expõe regularmente em individuais e colectivas.
Realiza igualmente tertúlias no seu atelier onde se juntam pessoas de diversas áreas (Filósofos, Cientistas, Artistas …) para debater assuntos relevantes e interessantes que possam de alguma forma fomentar ideias e conhecimentos.
Actualmente termina o mestrado em Criações Literárias Contemporâneas, especializando-se no Gótico da Literatura Norte-Americana, onde terminará com o projecto de exposição “BEHIND”.
Vive e trabalha em Lisboa, dedicando-se à sua art, escrita e ‘ciência’ a tempo inteiro.
A sua obra reflecte o seu carácter impulsivo, multifacetado, infinitamente curioso e insatisfeito. Destaca-se pela técnica inovadora de pintura e a sua constante re-invenção, onde a Pele é o conceito principal.