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Conhecer as plantas

Textos de Cândido Pinto Ricardo, Professor Catedrático Jubilado

Textos da autoria de Cândido Pinto Ricardo, Professor Catedrático Jubilado (Plant Biochemistry Lab) por ocasião da celebração do Ano Internacional do Fascínio das Plantas 2013. Os textos foram publicados pela primeira vez na página de facebook desta iniciativa (Aqui há Planta) entre Março e Maio de 2013.

 

 

 

ALECRIM – Rosmarinus officinalis

(Família das Lamiáceas)

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É planta aromática e medicinal, do Mediterrânio e Norte de África, predominantemente de regiões costeiras, o que poderá explicar a sua designação latina “ros marinus” (orvalho de mar); também uma lenda antiga diz que “mora onde o mar pode ser ouvido”. Em Portugal, “nasce nos montes sem ser semeado”, do Minho ao Algarve, cobrindo-se das suas flores acinzentadas, rosadas ou azuis, no meio do Inverno.

A sua ligação aos homens perde-se nos tempos. Há mais de três milénios a.C. que a sua existência é documentada, pois foi referenciado em plaquetas de escrita cuneiforme. No Egipto Antigo era colocado junto dos mortos, em sinal de lembrança para todo o sempre, o que os romanos também faziam e mesmo a Julieta de Shakespeare tem alecrim na sua sepultura, hábito que os ingleses parece terem mantido até ao século XIX. A ligação do alecrim era não só às recordações como à capacidade de fortalecer a própria memória, já que os estudantes da Grécia Antiga usavam frequentemente grinaldas de alecrim na cabeça ou pescoço, nos exames, ou colocavam-no debaixo do travesseiro na véspera das provas. Outras características que se lhe atribuiam eram de purificação, usado para fumigações pelos romanos, e de alegria, lealdade e amor, acompanhando os noivos no casamento. O apreço pelo alecrim levou a que fosse incluído, quase sempre, nos jardins dos gregos e dos romanos e o imperador dos Francos, Carlos Magno (século IX), exigia que estivesse sempre presente nos seus jardins. Este apreço real parece ter-se mantido com os tempos, estando referenciado, pelo menos, para Elizabete da Hungria (século XIV) e Henrique VIII de Inglaterra (século XVI) e afirma-se que o gosto de Napoleão (século XIX) pela Água de Colónia tem a ver com a participação da essência de alecrim nesse perfume.

Actualmente, o alecrim continua a ser uma aromática bastante apreciada em culinária e em medicina popular, usado para aumentar a excreção renal e as funções digestivas, proteger contra intoxicações, no tratamento das constipações e como antissético na higiene oral. Contudo, deve ser usado com precaução, pois que o seu óleo essencial é muito tóxico, danificando os rins e o sistema nervoso, é abortivo e irritante da pele e mucosas. Isto deve-se, em grande parte, a monoterpenos maioritários, como a cânfora, o alfa-pineno e o borneol. Claro que a cânfora é um repelente das traças! Outros componentes importantes do alecrim são os compostos fenólicos, como os flavonóides e o ácido rosmarínico. Este último tem importante acção antioxidante, de interesse para a indústria alimentar, pois diminui a rancificação dos óleos ricos em ácidos gordos insaturados.

 

Alface – Lactuca sativa

(Família das Compostas)

alface

Características: É uma pequena planta herbácea, anual ou bianual, usada na alimentação humana pelo menos desde 500 a.C., sendo actualmente cultivada em todo o Mundo, como uma salada muito apreciada. Existem muitos tipos de alface, que diferem pela forma e a cor das folhas que varia do verde amarelado ao verde escuro, ou pode mesmo ser vermelha ou roxa, devido a pigmentos do tipo antocianina.

Entre os diversos minerais e vitaminas que contém, encontam-se em maior quantidade as vitaminas A e K (100 gramas de alface podem fornecer, respectivamente, cerca de 250% e 100% da dose diária recomendada, para o ser humano, destas vitaminas).

Curiosidades: A alface tem propriedades calmantes (sendo o efeito narcótico mais intenso nas formas selvagens) e uma certa acção laxante.

Origem: desde Mediterrânio à Sibéria.
 

ARMÉRIA DO CABO DA ROCA – Armeria pseudoarmeria

(Família das Plumbagináceas)

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O género Armeria engloba mais de 100 espécies, as quais são plantas essencialmente nativas da região mediterrânica, embora uma espécie (A. maritima) esteja também referida para as costas da Irlanda e da Grã-Bretanha. As armérias são plantas vivazes que formam tufos de folhas, mais ou menos densos, e que na altura da floração ficam cobertos de vistosas flores, que poderão ser de cor branca, creme, rosa claro ou quase vermelho. A beleza destas plantas traduz-se em alguns dos nomes que lhes têm sido dados pelas populações locais, como “relva-do-olimpo” (A. maritima) e “erva-divina” (A. welwitschii). Várias formas de armérias de jardim têm sido produzidas, muito apreciadas não só pela sua beleza, como também por apresentarem uma apreciável resistência a condições ambientais adversas, particularmente de alta luminosidade e temperatura e de solos pobres e secos.

Em Portugal, desde Minho, Trás-os-Montes, ao Algarve, encontram-se 21 espécies de Armeria, nove das quais com distribuíção limitada ao país, portanto, consideradas endémicas de Portugal. Entre estas conta-se a A. pseudoarmeria, que as populações locais designam por “cravo-romano”. É uma espécie que pode atingir meio metro de altura, de grandes flores brancas, com distribuíção praticamente limitada ao Cabo da Roca, “o ponto mais ocidental do continente europeu”. Pode assim considerar-se um símbolo do Cabo da Roca (e de um dos confins da Europa) e é lamentável que a sua sobrevivência esteja altamente ameaçada. A causa principal é o chorão (Carpobrotus edulis), uma planta trazida da África do Sul para consolidar terrenos e que se revelou uma terrivel invasora, pois é resistente à seca, vai sempre crescendo junto ao chão, ramificando-se e enraizando, originando desse modo grandes massas que secam o solo e abafam toda a vegetação nativa. Como tem grandes flores, que podem ser de um vermelho vistoso (ou amarelo pálido), tem sido amplamente difundido pelas pessoas, que desconhecendo o seu perigo o têm plantado sem cautelas. Grandes áreas da arméria no Cabo da Roca definham sufocadas pelo chorão, como se vê na imagem; as flores brancas das armérias remanescentes sobressaiem da massa compacta do chorão de flor amarela. Não se descobriu forma de reverter a situação, pois já houve campanhas dispendiosas de colheita e destruição do chorão, mas que se mostraram ineficientes, pois que os pequenos pedaços de chorão não recolhidos rapidamente recolonizam os campos. A extensão do “cravo-romano” do Cabo da Roca tem-se assim reduzido drasticamente e é pena se a planta se extinguir. Pode suceder que nalguns refúgios consiga “fujir” ao ataque do chorão, ficando como relíquia e símbolo de mais um erro ambiental do ser humano.

fOTOGRAFIA: Manuela Veloso, investigadora do Instituto Nacional de Investigação Agrária (INIAV)

 

Batateira - Solanum tuberosum

(Família das Solanáceas)

 

batateira

Características: Planta herbácea vivaz, com altura de cerca 60 cm, que se propaga por tubérculos (caules subterrâneos) que permanecem no solo após a parte aérea secar ou ser destruída. É proveniente da região andina do Perú, onde terá sido domesticada há menos de 10.000 anos e onde existem ainda muitas espécies afins. É, em importância, a quarta cultura agrícola, depois de arroz, trigo e milho, dela existindo mais de um milhar de variedades com diversa aptidão agrícola e culinária. É sensível à geada, o que limita a sua produção, sendo também afectada por pragas e doenças.

Curiosidades: Os tubérculos, com um teor de água de 75%, são uma importante fonte alimentar, que contém para além de amido (15%) e proteínas (2%) minerais e vitaminas de apreciável significado nutricional. São de destacar as vitaminas C e B6; 100 gramas de batata crua fornecem cerca de 25% dos teores diários recomendados para o ser humano. Apesar deste teor de vitamina C não ser particularmente elevado ele foi de grande significado para as populações europeias, quando da introdução da batata na Europa (século VI), levando ao fim da deficiência endémica da vitamina (escorbuto). Aliás, a batata teve também um importante papel contra a fome, os revezes da sua produção tendo marcadas implicações na saúde e sobrevivência humana. É de relembrar a grande fome da Irlanda, entre 1845 e 1852, devido à destruição das batateiras pela fitóftora, que causou um milhão de mortes e mais um milhão de emigrantes.

A batateira, como todas as plantas da família das Solanáceas é rica em alcalóides altamente tóxicos (glicoalcalóides, como a solanina), que são importante para a defesa da planta contra as pragas, mas que afectam o sistema nervoso e o fígado das pessoas. O melhoramento eliminou-os praticamente dos tubérculos, que todavia intensificam a sua síntese (subjacentemente à casca) durante o abrolhamento, ao serem danificados ou ao ficarem verdes por formação da clorofila, na exposição ao sol.

Origem: América do Sul

 

 

Baunilha – Vanilla planifolia

(Família das Orquidáceas)

baunilha

 Características: Orquídia trepadeira

Curiosidades: O povo Olmeca (do Golfo do México) poderá ter sido o primeiro a usar a baunilha para aromatizar bebidas, mas só no século XVI chegou à Europa, trazida pelos conquistadores espanhóis. Devido à importância comercial da planta ela passou a ser cultivada em diversos países tropicais, de clima húmido para bom desenvolvimento da planta, mas desejavelmente com um período seco, para boa maturação das vágens. Estas têm de ser adequadamente tratadas para atingirem a qualidade exigida pela indústria. Usualmente são mergulhadas em água a ferver e depois lentamente secas, num processo que dura usualmente mais de seis semanas. A cura deve originar vágens de cor negra.
A essência natural de baunilha é uma especiaria muito cara, só suplantada em preço pelo açafrão, em consequência da polinização das flores ter de ser feita à mão. Na natureza este processo ocorre numa simbiose com um insecto polinizador (abelha do género Melipona), facto que enquanto desconhecido limitou a expansão do cultivo da baunilha.
A essência é uma mistura de aromas, de que é maioritária a vanilina (aldeído fenólico). A vanilina passou a ser obtida quimicamente por vários processos, um dos quais usa como precursor a lenhina (componente da madeira eliminado durante a preparação da pasta de papel). Dispos-se, deste modo, de um composto 100 vezes mais barato do que a essência natural, mas esta continua a ter mercado devido ao seu aroma mais requintado, consequência da presença de outros componentes aromáticos.
Note-se que a vanilina é tóxica em altas concentrações. Embora isso não suceda nas doses normais de utilisação, pode desencadear enxaqueca numa fracção das pessoas com tendência para este desequilíbrio.

Origem: América Central, onde a essência das vágens era de longa data usada nos locais de culto. 

 

Esteva – Cistus spp.

(Família das Cistáceas)

esteva

Existem cerca de uma dezena de espécies deste género em Portugal, que recebem designações de esteva, estevão, estevinha.

A esteva comum é o Cistus ladanifer subsp. ladanifer, planta vivaz de grande distribuição no país. Pela sua beleza podem ainda ser referidas, a esteva-da-arrábida (C. albidus), arbusto muito atraente com cerca de um metro, de folhas felpudas acinzentadas e grandes flores rosadas, e o C. crispus, planta de pequenas dimensões (estevinha) de terrenos ácidos arenosos, que forma pequenas moitas de uns 20 centímetros de altura, revestidas de flores rosa-escuro no período da floração.

A esteva comum pode atingir dimensões variáveis, dependentes das características do solo e clima, mas que podem chegar aos dois metros e meio de altura. Coloniza, usualmente, os solos agrícolas pobres e degradados e as encostas de muitos montes do país, nomeadamente, Alentejo e Algarve. É também comum em Espanha, sul de França e norte de África.

As suas grandes e bonitas flores brancas (de 5 pétalas com mancha cor de sangue na base e tufo central de estames amarelos) decoram as encostas desses montes durante um período curto da transição Inverno/Primavera. A planta tem caules rígidos, finos e nodosos, pouco revestidos de folhas, que embora pequenas são atraentes, devido à sua consistência coriácea e cor verde brilhante.

Toda a planta está coberta por uma oleoresina pegajosa (lábdano), que no calor exala um aroma forte “a mato”. As pequenas sementes, castanhas, são maioritariamente impermeáveis à água (sementes duras) permanecendo viáveis no solo por vários anos até conseguirem germinar, o que pode resultar do estímulo do fogo (factor que contribui para a expansão da esteva). A vasta extensão de território ocupado pela esteva tem levado a procurar formas rentáveis da sua exploração, sem grande sucesso. A extracção do lábdano continua a ser a utilização mais importante ao dispor dos agricultores, no próprio campo, pois que ao ferverem a planta ele se desprende e flutua na água. O lábdano é bastante apreciado em perfumaria, não só pelo seu aroma próprio (semelhante ao âmbar-pardo), como também por entrar em muitos perfumes como fixativo de outras essências. A França é o principal produtor.
 

Medronheiro - Arbutus unedo

(Família das Ericáceas)

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O género Arbutus é formado por cerca de 15 espécies de plantas nativas de regiões temperadas quentes do Mediterrâneo, Europa ocidental e América do Norte.

Arbusto ou pequena árvore (até cerca de 10 metros) que se estende do Mediterrâneo ocidental até ao oeste da França e às costas da Irlanda, de clima amenizado pela Corrente do Golfo. Contrariamente à maioria das Ericáceas não exige solos ácidos, pelo que em Portugal se encontra de norte a sul, formando em certas zonas do Algarve (particularmente serras de Caldeirão e de Monchique) matas de dimensão ainda apreciável.

É árvore de folhas coriáceas persistentes de um bonito verde brilhante e flores creme, em cachos, que surgem de Outubro a Dezembro. Os frutos levam um ano a amadurecer, adquirindo cor vermelho vivo, quando a nova floração surge, altura em que a árvore é particularmente atraente, também rejuvenescida pelas chuvas que quebraram a seca do Verão.

Os frutos são bastante ricos em açúcar, mas sem grande sabor, de superfície áspera e com bastantes sementes e escleritos, pelo que em geral se come um ou pouco mais.

Em França são usados para fazer compotas e licores e em Portugal são preferencialmente fermentados para destilação de uma água-ardente, conhecida por medronheira. Esta é um produto tradicional e bastante popular da região argarvia, embora haja indicação de ter um certo grau de toxicidade devido a teores de álcool metílico formado na fermentação.

Na medicina popular às folhas são atribuídas propriedades tónicas, antisséticas e com efeito sobre o reumatismo.

O medronheiro já é usado como planta ornamental desde o tempo dos romanos, que todavia consideravam as suas flores como dando sabor amargo ao mel. No brasão da cidade de Madrid a figura central representa um urso tentando comer os frutos de um medronheiro. Os medronhos quando muito maduros auto-fermentam na própria árvore ou no chão e é dito que os ursos gostam de os comer e ficam bêbados.
 

Papoila – Papaver spp.

(Família das Papaveráceas)

papoila

 Características e origem: O género Papaver é constituído por cerca de 100 espécies de plantas, anuais, bianuais ou vivazes, das regiões temperadas a frias da Eurásia, África e América do Norte. Em Portugal são espontâneas meia dúzia de espécies, que genericamente são chamadas de papoilas, mas têm designações mais específicas como, por exemplo, papoila-das-searas (P. rhoeas), papoila-longa (P. dubium), papoila-peluda (P. hybrida), papoila-de-folhas-fendidas (P. pinnatifidium), papoila-branca ou dormideira-brava (P. setigerum).

À papoila associamos usualmente a cor vermelha (desde muito escuro a desbotado), embora, conforme a espécie, possa ir do branco, amarelo-limão da árctica P. laestadianum, amarelo torrado da californiana P. californicum, à enorme diversidade verificada nas formas de jardim.

Curiosidades: O despontar das papoilas nos campos é um sinal do aproximar da Primavera e dos dias luminosos e quentes do Verão. Como símbolo de amor e vida está presente nos ramos do dia da espiga (quinta-feira da Ascensão). Muitos pintores foram atraídos pela beleza dos vastos campos de papoilas rubras, como bem exemplificam os célebres quadros de Monet e de van Gogh.

A papoila é cultivada como ornamental desde 5000 a.C. (na Mesopotâmia). Está representada nos túmulos egípcios, e os gregos dedicaram-na a Deméter, deusa da fertilidade e agricultura, e associaram-na a Hipnos, Nix e Tanatos (respectivamente deuses do sono, da noite e da morte), em consequência das suas propriedades medicinais conhecidas desde longa data. Em algumas ilhas gregas as mulheres velhas usavam-na num processo eutanásico de aceleração da morte. Hipócrates descreveu o látex da papoila como narcótico, hipnótico e de efeitos purgativos, mas também reconheceu interesse alimentar às suas sementes (hoje de uso em certos tipos de pão). O alcalóide roeadine das flores da papoila-das-searas é um sedativo ligeiro, mas particularmente rica em alcalóides de efeito narcótico é a papoila-dormideira (P. somniferum), já usada pelos povos neolíticos da Europa e que os Sumérios designavam por planta-da-alegria. O seu látex seco constitui o ópio, que contém 10 a 20 % de alcalóides, os mais abundantes sendo a morfina, a codeína e a narcotina.
O ópio tem originado diversas convulsões e guerras, como a que opôs a China a Inglaterra e França, no século XIX, ou o mais recente conflito no Afeganistão. Austrália, Turquia e Índia, são os principais produtores de ópio para fins medicinais, sendo os principais transformadores, EUA, Reino Unido, França, Austrália e Hungria.
Note-se, todavia, que a produção ilegal de ópio suplanta, largamente, a legal.

 

Plátanos

(Família das Platanáceas)

platanos

Características: Árvores de sombra, de folha caduca, elegantes e majestosas (podem atingir 30 m de altura e quase 20 m de diâmetro de copa), com casca bastante distintiva, que se vai desprendendo em placas, criando no tronco um típico padrão de “camuflado”.

Os frutos, múltiplos de aquénios, são pompons arredondados que ficam pendurados nos ramos a partir do fim do verão/início do outono e são úteis como alimento de pássaros e esquilos, mas que ao desintegrarem-se quando maduros libertam pequenas estruturas sedosas, eventualmente irritantes para o aparelho respiratório.

Curiosidades: Comuns nas cidades de norte a sul de Portugal e de muitos outros países, sendo os plátanos de Londres, que bem resistiram aos grandes problemas de poluição da cidade, nos inícios da revolução industrial. Também famoso é o designado “plátano de Hipócrates” do centro da cidade de Kos (ilha grega do mesmo nome). É considerado a maior árvore da Europa (perímetro de 12 metros), que o povo de Kos diz ter sido plantado por aquele famoso médico, cerca de 400 aC.

Origem: As espécies mais comuns são do sudeste europeu e Médio Oriente (Platanus orientalis) e a da parte oriental da América do Norte (P. occidentalis), que hibridaram naturalmente. Estes híbridos resistem melhor ao frio que o plátano europeu e por isso são preferidos nas cidades da Europa não mediterrânica.
 

Rosa damascena ©The Royal Society

Roseiras (família das Rosáceas).

Rosa Damascena

Características: Arbustos (até 2 m de altura) ou trepadeiras (caso da R. sempervirens que pode subir pelas árvores vizinhas, formando densas massas entrelaçadas), com folhas caducas ou perenes (R. sempervirens), flores singelas brancas ou rosadas e vistosos frutos vermelhos ou alaranjados.

Curiosidades: Muitas roseiras resultantes de cruzamentos receberam designações de celebridades (Lincoln, Shakespeare, João Paulo II).
Ramakrishna Karuturi, com o seu lema "Let a million roses bloom", é o maior produtor mundial de rosas.
Um sector importante ligado às rosas é o dos perfumes. O óleo essencial de rosas ( R. damascena) é muito apreciado e entra na composição dos melhores perfumes do Mundo (Christian Dior, Givenchy, Lancôme, Bulgari, Chanel).
Do ponto de vista dietético, os frutos da roseira são ricos em vitaminas A, C e E e em flavonóides. É todavia necessário ter cuidado ao consumir os frutos em fresco porque as sementes são envolvidas por finos pêlos rígidos que podem penetrar as mucosas e causar irritação e inflamação.

Origem: Hemisfério Norte (incluem os gelos do Círculo Polar Árctico e dos Himalaias). Existem pois em todos os continentes excepto na Austrália. Em Portugal existem umas 5 espécies de roseiras selvagens conhecidas por diferentes designações: roseira-brava (Rosa sempervirens e R. micrantha), rosa-de-cão (R. canina), rosa-peluda-do-gerês (R. mollis), rosa-peluda-do-minho (R. tomentosa).

 

Salsa – Petroselinum crispum

(Família das Umbelíferas)

salsa

Características e curiosidades: Planta herbácea bienal, com cerca de 40 cm de altura, conhecida desde os tempos antigos, estando presente nas hortas, embora não fosse usada na alimentação.
Na Grécia antiga era dedicada a Perséfone, deusa ligada à terra, às sementeiras e ao mundo subterrâneo, ficando assim associada a rituais fúnebres. A salsa tanto servia para fazer coroas fúnebres como para coroar os vencedores de competições desportivas.
Já era consumida na Idade Média, sendo na actualidade uma das ervas condimentares mais usada no Mundo, presença usual nas hortas portuguesas e de grande utilização na culinária.
As variedades mais importantes são, a “Comum” (de folhas lisas) e a “Frisada” (de folhas altamente ramificadas e um tanto encrespadas). Menos frequentes são as variedades de raiz grossa e carnuda, a qual se cozinha como vegetal.
Dada a utilisação condimentar das folhas de salsa, não são consumidas em grandes quantidades, no entanto são ricas nas vitaminas C, A e ácido fólico e em compostos anti-oxidantes (como o flavonóide luteolina), pelo que lhe são atribuídas propriedades anti-inflamatórias e desintoxicantes.

Origem: Região mediterrânica (sul da Europa, Turquia, Argélia, Tunísia) e naturalisada em vários locais da vasta região em que é cultivada como planta aromática condimentar.

 

 

SOBREIRO – Quercus suber

(Família das Fagáceas)

sobreiro

O género Quercus compreende cerca de 600 espécies de árvores e arbustos do Hemisfério Norte, genericamente designadas por carvalhos; em Portugal existem 8 espécies de Quercus. O sobreiro (sobro, chaparro ou sobreira) é uma árvore de folha persistente, de 15-25 metros de altura e grande longevidade (250-300 anos), com a interessante característica de ter o tronco protegido por uma espessa camada de cortiça. O seu habitat é restrito, pois confina-se, essencialmente, ao Mediterrâneo ocidental (Argélia, Espanha, França, Itália, Marrocos, Portugal e Tunísia), localizando-se em Portugal cerca de um terço da área global de distribuição. Este facto, a grande importância ecológica e socio-económica do sobreiro e o grande valor comercial da cortiça, fizeram desta árvore um símbolo nacional, que veio a ser oficialmente instituído pela Assembleia da República em Dezembro de 2011. Há sobreiros do Minho ao Algarve, pois o país tem condições edafo-climáticas particularmente adequadas ao seu desenvolvimento, mas dos mais de 80% do território com esse potencial só cerca de 8% são presentemente por ele ocupados. Embora planta mediterrânica, encontra habitat muito favorável no litoral alentejano, onde a influência atlântica reduz as amplitudes térmicas e mantém uma certa humidade no ar. A descoberta de fósseis de sobreiro no Alentejo ilustra a sua longa presença na região. Aliás, pensa-se que terá mesmo resistido à glaciação, “escondido” em certos refúgios mediterrânicos.

Para além das plantas dispersas, os sobreiros constituem em Portugal dois tipos principais de formações: os montados (sistemas explorados e geridos pelo homem como actividade agrícola) e os sobreirais (bosques de características semi-naturais). Estes últimos, que são ecossistemas de elevadíssima biodiversidade, ocuparam de facto, juntamente com as florestas de outros carvalhos, grande parte do país. A sua regressão, ocorrida ao longo das épocas, iniciou-se com o abate para uso da madeira e a obtenção de terreno agricultável. Já os visigodos se preocuparam com os excessos cometidos e no século VII promulgaram num Código a protecção do sobreiro. Vários Reis portugueses tiveram idênticas preocupações, mas a juntar ainda à queima para carvão e ao uso de ramos no curtume das peles, as necessidades de madeira para a construção naval das descobertas (séculos XV-XVII) foram um rude golpe nos sobreiros. Muitas centenas eram necessárias para construir uma nau (a sua madeira, de difícil apodrecimento, era ideal para formar o esqueleto do navio). Outro golpe nos sobreiros foram as “campanhas do trigo” (início em 1929) que, arrancando os sobreiros, pretendiam transformar o Alentejo em “celeiro de Portugal”.

O sobreiro está agora protegido por lei, mas isso não impede que se autorize o abate de 3200 para construir uma barragem no rio Vouga ou que outros tenham de sucumbir a certos “empreendimentos” turísticos. Acresce que sucessivos anos de seca, aumentos da temperatura (aquecimento global) e efeitos de agentes patogénicos têm incrementado a degradação dos ecossistemas do sobreiro, que se expressa no “síndrome da morte súbita” e veio assim revelar fragilidades que ainda não compreendemos. Neste panorama, a boa gestão dos montados, com consequente exploração da cortiça, é contributo importante para a defesa do sobreiro, mas embora haja um crescente interesse nacional por esta árvore emblemática ela continua bastante ameaçada. A recente aprovação do projecto de sequenciação do genoma do sobreiro, para além de um feito nacional, será um grande contributo para conhecer a genética desta árvore, adquirindo-se, assim, informação útil sobre as suas fragilidades, os mecanismos de defesa e os limites da sua resistência.

Trigo

(Triticum)

trigo

Curiosidades: O grão deste cereal é uma das mais importantes fontes nutricionais humanas, a nivel mundial, sendo a farinha obtida da moenda consumida na forma de pão, massas alimentares, bolachas, entre ouros, incluindo utilizações industriais.

A produtividade do trigo varia muito com os locais de cultivo e as técnicas utilizadas, sendo os grandes produtores, a UE, a China, a Índia, a Rússia e os EUA. Portugal não tem boas condições de produção, estando assim grandemente dependente das importações para suprir as suas necessidades alimentares.

Origem: Ásia Menor (região da Turquia)

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Violeta – Viola odorata

(Família das Violáceas)

violeta

A violeta é uma pequena planta vivaz, de 10 a 15 centímetros de altura, nativa da Europa e Ásia, que ainda se encontra espontânea nas clareiras e bordos das florestas, e da qual se originaram as diversas variedades de jardim. Tem flores violeta escuro ou branco, muito aromáticas.

A esta planta têm-se associado diferentes significados, uns ligados ao seu aspecto frágil e elegante, outros à cor ou ao aroma da flor, e também a ela se ligaram diversos mitos da Grécia e Roma antigas.

Para os gregos, as violetas eram símbolo de fertilidade e amor e o seu nascimento resultou das gotas do sangue de Attis (semi-deus da vegetação), ao suicidar-se na base de um pinheiro, em consequência do amor ciumento que Cibele (a mãe dos deuses) tinha por ele. Mas quando Cibele ressuscita Attis na Primavera é o ritual do renascer da vida que se celebra. Zeus, por outro lado, transformou a sua amante Io em vitela e então os campos cobriram-se de violetas para a alimentar e perfumar. O símbolo de Atenas era a violeta (Ion), referindo-a Aristófanes numa das suas peças, como a cidade coroada de violetas, fazendo uma analogia com a coroação do rei Ion nessa cidade; até o vinho era aí aromatizado com violetas. Do ponto de vista terapêutico associam-se às violetas propriedades de combate à tosse, constipações, asma e dores reumáticas.

 

  

Textos de Cândido Pinto Ricardo, Professor Catedrático Jubilado, Plant Biochemistry Lab

 

 

 

 

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